Quando Cher era Cherilyn Sarkisian, uma garotinha que andava correndo e dançando nua pela casa, sua mãe Georgia Holt costumava dizer que a filha era alguém muito especial e que teria sucesso em tudo o que fizesse. Mas ela certamente não imaginava que aquela menina alegre que adorava cantar viraria um dos maiores ícones do século XX, com uma carreira de cinco décadas e se tornando referência em cada área que atua, seja no cinema, na TV ou na música. “Eu sempre soube que um dia me tornaria algo fantástico”, diz Cher, olhando para trás no alto de seus 45 anos de carreira e 63 anos de idade.
Cher veio ao mundo às 7h25min do dia 20 de maio de 1946 em El Centro, no interior da Califórnia. Sua mãe era dona de casa, e seu pai, John Sarkisian, um caminhoneiro refugiado da Armênia. O pai fugiu de casa por conta do vício em drogas quando ela tinha apenas dois anos e, desde então, a pequena Cherilyn teve que aprender a conviver com as frequentes trocas de marido que sua mãe fazia – oito, no total. Cher viveu a infância como uma nômade, mudando de cidade inúmeras vezes. Em 1951, ela ganhou uma irmã, Georganne, fruto do casamento da sua mãe com John Southnall. Seu quarto marido, o banqueiro Gilbert LaPiere, adotou Cher e Georganne e lhes deu seu sobrenome.
Entre casamentos e divórcios, sua mãe enfrentou uma grave crise e passou a se apresentar em bares e a fazer pequenas participações em filmes sem muita importância como meio de sustentar as filhas. Por conta do trabalho, Georgia matriculou Cher em uma escola católica e, em pouco tempo, as freiras do colégio forçaram-na a colocar Cher para adoção. Assim, Cher ficou longe de sua mãe por seis meses, quando, depois de muito esforço, Georgia conseguiu resgatar a filha. Aos 11 anos, Cher se reencontrou com seu pai biológico, que estava preso por consumo de álcool e drogas.
A adolescência foi um período conturbado para Cher, uma vez que seu desempenho na escola era terrível por conta da dislexia (doença que ela só descobriu ter aos 30 anos) e a crise financeira na sua casa só aumentava. “Passar fome não me aborrecia. O que me aborrecia era não ter roupas”, brinca Cher. Em uma noite, quando não sabia mais que rumo tomar na vida, Cher viu pela primeira vez sua mãe atuar em uma peça de teatro local e ficou fascinada com a ideia de se tornar uma grande atriz. Sua mãe conciliou a rotina de apresentações com as aulas que dava para Cher em casa sobre como orientar sua carreira em Hollywood. Decidida a tornar seu sonho real, Cher abandonou a escola e fugiu de casa aos 16 anos. Viajou para Los Angeles, onde teria aulas de interpretação. Para ela, era o começo de uma nova vida.
Mas nem tudo ocorreu como o planejado e, em pouco tempo, Cher se viu desempregada e sem dinheiro para quitar as dívidas que adquiriu em Los Angeles. Foi quando, em uma noite no Aldo’s Coffee Shop, point famoso por reunir celebridades, conheceu Salvatore Phillip Bono, o Sonny. Bono tinha acabado de se estabelecer como celebridade em Hollywood e fazia algumas participações notórias em programas de TV. Os dois se tornaram rapidamente amigos e passaram a dividir o mesmo apartamento, porém, dormiam em camas separadas. Ao saber do estilo de vida hollywoodiano da filha, a mãe de Cher não gostou de vê-la morando com um homem sem que tivessem um compromisso formal e exigiu que os dois morassem separados ou assumissem de vez uma relação. Foi quando Sonny e Cher se descobriram apaixonados.
Com o incentivo de Sonny, Cher passou a trabalhar como backing vocal nas músicas do produtor Phil Spector, como meio de pagar as aulas de teatro. Spector ficou encantado com a voz grave de Cher e não hesitou em lançar a jovem no cenário musical. Cher adotou o nome artístico de “Bonnie Jo Manson” e lançou, em 1964, seu primeiro single, Ringo, I Love You, uma homenagem ao Beatle Ringo Starr. Cher odiou gravar a canção e a experiência como cantora, mas cedeu ao pedido de Sonny e gravou mais um single, Dream Baby, lançada sob o nome “Cherilyn”.
Nenhum dos singles obteve sucesso comercial, mas os esforços de Sonny em lançar uma jovem de voz tão singular ao estrelato não cessaram. Em outubro de 1964, Sonny e Cher casaram e formaram a dupla “Caesar & Cleo”, um embrião da parceria que entraria para a história da música. Caesar & Cleo fizeram bastante sucesso na cena underground e chamaram a atenção da gravadora Atlantic Records, que contratou o duo e lançou o álbum “Caesar & Cleo” em tiragem limitada.
A partir daí, nada impediria o casal Salvatore e Cherilyn de despontar para o estrelato. O duo passou o primeiro semestre de 1965 gravando o primeiro álbum oficial de suas carreiras, Look At Us, lançado no verão do mesmo ano sob o nome que os consagraria mundialmente: “Sonny & Cher”. O primeiro compacto do álbum, I Got You Babe, chegou ao primeiro lugar no Billboard Hot 100 em agosto de 1965, e se tornou um clássico instantâneo, transformando o casal jovem e excêntrico em febre mundial por vezes comparada a Beatlemania. Sonny e Cher, com suas calças coloridas e cabelos diferentes, foram um dos principais precursores do movimento hippie, que acompanhou o tempo de carreira da dupla, começando no auge do seu sucesso e definhando com o fim da dupla em 1974.
Com o “fenômeno Sonny & Cher”, a dupla viajou o mundo inteiro com turnês mundiais que bateram recordes de lucro na época. Embora no início aparentasse ser uma adolescente tímida e desajeitada, Cher em pouco tempo se firmou como a parte mais importante da dupla, adotando um comportamento ousado e provocativo em shows. Suas roupas exóticas e curtas e a mistura de inocência infantil com sensualidade adulta que explorava em fotos e vídeos fizeram dela uma das celebridades mais polêmicas da década. Cher se tornou um ícone trend-setter na cultura hippie, popularizando modelos como a minissaia e a calça boca-de-sino, de invenção própria.
Na década de 1960, Sonny & Cher lançaram hinos da cultura hippie como The Beat Goes On, regravada três décadas depois para o álbum de estréia de Britney Spears. Paralelo ao sucesso febril da dupla, Cher lançou seus primeiros álbuns solo: All I Really Want To Do, The Sonny Side Of Cher, Cher, With Love, Backstage e 3614 Jackson Highway. Todos os lançamentos tiveram vendas expressivas, embora fossem compostos basicamente de regravações de outros artistas, numa tentativa de mostrar a crítica o potencial vocal de Cher. Em 1966, Cher lançou Bang Bang (My Baby Shot Me Down), com batidas e influência ciganas, e conquistou o primeiro clássico de sua carreira solo, alcançando o top 5 nos dois lados do Atlântico, EUA e Reino Unido, ao mesmo tempo. Mais tarde, a versão da cantora Nancy Sinatra ganhou notoriedade ao ser incluída na trilha sonora do filme Kill Bill. Em 1969, Cher, enfim, realizou o sonho de se tornar atriz, protagonizando Chastity. O filme, porém, foi um fracasso de bilheteria. No mesmo ano, Cher teve sua primeira filha, Chastity Sun Bono.
Com o fim da década de 1960 e a revolução musical que ocorria na época, o folk que Sonny & Cher faziam perdeu espaço para o rock psicodélico e temas como o sexo explícito e o uso de entorpecentes. Para Cher a regra era clara: ou ela reiventava a si mesma ou caíria no ostracismo e sua carreira morreria nos anos 60. Cher abandonou a franja, a maquiagem carregada e o estilo de menina sensual e adotou uma postura sexy e adulta. Então, nascia a Cher 70’s.
Em 1969, Sonny & Cher iniciaram um ambicioso e inédito projeto em Las Vegas: um show onde a música não é mais o objeto principal, mas sim o pano de fundo para a teatralidade, encenações e esquetes ao vivo, estilo em que foram precursores e que foi bastante difundido por artistas como David Bowie e Madonna. Um “caça-talentos” esteve presente em vários shows e percebeu que o casal tinha incrível potencial para a TV.
Sem nenhuma experiência prévia no ramo Cher aceitou o arriscado convite de um diretor da CBS para apresentar o que poderia significar tanto a consagração de sua carreira quanto o ostracismo total: o The Sonny & Cher Comedy Hour.
O casal estrelou o programa de TV pela primeira vez em 1971, e o que era um “tiro no escuro” para a carreira de Cher virou um sucesso estrondoso que se manteve por quatro anos entre as dez atrações de maior audiência da CBS e que foi indicado ao Emmy por 15 vezes, ganhando uma vez por melhor direção. O programa também rendeu a Cher um Golden Globe de “Melhor Apresentadora de TV” (Best Performance By an Actress in a Television Series - Musical or Comedy).
Com o enorme êxito do seu programa de TV, Cher resolveu se reinventar musicalmente, contratando o produtor Snuff Garrett para compor as músicas do seu primeiro álbum na nova década. Em 1971, Cher lançou Gypsies, Tramps and Thieves, um álbum que diferenciava de tudo o que ela já havia gravado antes e mostrava claramente uma evolução na voz, nos ritmos, nos temas tratados nas letras, agora mais maduras, em contraste com o teor adolescente dos anos 60, e na imagem de Cher, que se mostrou mais adulta e sensual. Gypsies é o trabalho que marcou a transição de adolescente hippie para mulher independente e sexualmente poderosa na carreira de Cher. A partir de 1971, uma série de álbuns-hit foram lançados, todos eles com ótimas vendagens: Foxy Lady, Bittersweet White Light e Half Breed. Entre 1971 e 1974, Cher conquistou três lideranças na parada da Billboard, com os hits Gypsies, Tramps and Thieves, Half Breed e Dark Lady, firmando-se definitivamente como artista solo.
Após três anos de sucesso estrondoso e ininterrupto comandando o programa de auditório de maior audiência da CBS e tendo sua imagem diariamente explorada por revistas e tabloides do mundo inteiro, Cher vê seu casamento com Sonny ruir em 1974. O divórcio culminou no fim de uma das maiores parcerias do show business, bem como na extinção do seu programa de auditório. Em contrapartida, a vida pessoal de Cher foi milimetricamente vasculhada durante esta época e rumores sobre a disputa da guarda de Chastity e até de um improvável casamento com Elvis Presley eram as manchetes dos jornais e revistas da época. No auge de sua popularidade, Cher lançou o aclamado álbum Dark Lady, conquistando uma nova geração de fãs com seu estilo “glam pop”, abandonando definitivamente o hippie que a consagrou na década passada.
A exposição pública da vida pessoal de Cher se seguiu até meados de 1975, quando o divórcio de Bono finalmente foi finalizado. Alheia a exploração da sua imagem pela mídia, Cher se casou com o roqueiro Gregg Allman três dias depois do divórcio de Sonny, protagonizando um dos maiores “escândalos” da década de 70. Mesmo com a carreira conturbada, Cher lançou seu próprio programa de auditório: Cher (ou The Cher Show). Ao contrário da crítica, que era favorável ao programa solo de Sonny Bono, o The Cher Show foi um sucesso ainda maior que o programa com o ex-marido, contando com participações de artistas como Elton John, David Bowie e Patti LaBelle, tornando-se um dos programas mais assistidos de 1975. A atração também foi alvo de críticas em relação as roupas que Cher vestia, a maioria delas expondo o umbigo, todas elas criações do estilista Bob Mackie. Com a popularidade do programa em alta, o umbigo exposto virou moda entre as mulheres na época. O programa durou pouco mais de um ano, quando Cher anunciou que estava grávida pela segunda vez. Durante o período mais conturbado de sua carreira, Cher lançou os álbuns Stars, I’d Rather Believe In You e Cherished, como forma de encerrar seu contrato com a Warner. Elijah Blue Allman nasceu em 1976.
Após a gravidez, Cher gravou um álbum com o marido Gregg Allman, Two the Hard Way, mas este foi um fracasso comercial e de crítica. Enquanto sua carreira estagnava, o casamento com Gregg começava a falir por conta do seu uso indiscriminado de drogas. A crise conjugal chegou ao ápice em 1978, quando Cher se divorciou pela segunda vez.
Após sete anos tendo sua imagem incessantemente explorada pela mídia e dois divórcios em menos de 36 meses, a carreira de Cher estava paralisada. Mesmo com a popularidade abalada, Cher fez um breve retorno a TV protagonizando o programa de um único episódio Cher… Special, em 1978, que foi recebido muito bem pelo público.
Com uma carreira “fadada ao fracasso” segundo os críticos, Cher viu que era hora de reinventar-se outra vez. Uma nova fase em sua carreira seria marcada pelo rompimento com a Warner, o contrato com a Casablanca Records e a mudança legal de seu nome completo para Cher, sem sobrenome algum. Era o nascimento da Disco Cher.
Em 1979, Cher supreendeu a crítica e o público com o lançamento de Take Me Home, álbum que se tornaria um dos medalhões da disco music. O primeiro compacto, Take Me Home, marcou a volta de Cher ao top 10 no Hot 100 da revista Billboard e era voltado para a febre da época: as discotecas. Na contramão dos críticos, Cher voltou ao topo das paradas mais uma vez, aos 15 anos de carreira, reiventando-se como ícone da disco music e lançando clássicos desse estilo como Bad Love eHell On Wheels. As vendas do álbum foram as maiores da sua carreira até então, com mais de cinco milhões de cópias vendidas em todo o mundo, talvez impulsionadas pela icônica imagem de Cher semi-nua vestida de guerreira viking na capa do vinil. O álbum traz um repertório que difere de tudo o que ela já lançou anteriormente, com essência dançante e letras que evocam o pesadelo midiático vivido durante o casamento com Gregg Allman.
Com a imagem de “disco diva” em alta, Cher lançou o álbum Prisoner nos mesmos moldes do trabalho anterior, porém flertando com o rock e com temática ainda mais adulta e chocante. Acompanhando o conceito das músicas, a imagem de Cher sofreu uma mudança drástica, uma vez que seu corpo foi bastante explorado em vídeos e ensaios fotográficos. Por vezes ela aparecia completamente nua, coberta apenas por lantejoulas e correntes estrategicamente posicionadas. A capa do álbum faz referência ao sadomasoquismo, fato que causou controvérsia e a consagrou como o "símbolo sexual" da era disco.
Com a popularidade nas alturas, Cher estrelou mais uma vez um especial de TV, Cher… and Other Fantasies, onde foi veiculado pela primeira vez o videoclipe de Take Me Home, o primeiro de sua carreira. Com o clipe de Hell On Wheels, lançado simultaneamente, Cher foi uma das precursoras do padrão de videoclipe adotado pela MTV mesmo antes de sua existência. Ainda em 1979, Cher deu início a Take Me Home Tour, sua primeira turnê solo, tendo como suporte os álbuns Take Me Home e Prisoner. A turnê foi berço de algumas marcas registradas de Cher ao vivo, como a interpretação teatral das canções e as inúmeras trocas de roupa, arrecadando 20 milhões de dólares.
Em 1980, Cher resolveu se desvencilhar de sua imagem pública e do estilo disco que a recolocou no topo das paradas. Em seu breve relacionamento com o guitarrista Les Dudek, ela assumiu o vocal de uma banda independente de rock, a Black Rose, e em pouco tempo gravou o primeiro disco da banda. As letras pesadas mostravam uma Cher que em nada se assemelhava a imagem glamourosa construída nos anos 70, e a sonoridade do disco era “suja” e voltada para o punk rock. Caracterizando a nova fase, Cher incorporou uma típica garota punk, cortando seus cabelos – uma de suas marcas nos anos 70 – na altura do pescoço e vestindo roupas escuras e com aparência “largada”. Cher, no entanto, não queria que a banda saísse do underground por conta de sua fama, e talvez isso tenha contribuído para a separação no ano seguinte. O estilo punk e agressivo que Cher desenvolveu nessa fase caracterizaria a Cher 80’s.
Nos anos seguintes, Cher exploraria o punk rock em Dead Ringer for Love, um dueto com a banda Meat Loaf que seria seu primeiro hit top 5 no Reino Unido em dez anos; e com o álbum I Paralyze, que fugiu totalmente do estilo dos seus últimos trabalhos solo: Prisoner e Take Me Home, uma vez que a sonoridade do disco acompanhava a new wave e o glam rock da Black Rose e a imagem de Cher não era mais focada no corpo, mas na rebeldia e atitude rock ‘n’ roll, que a definiria na nova década. O álbum, no entanto, foi um fiasco.
Com a carreira musical em declínio e a estrondosa popularidade adquirida pelo seu retorno triunfal às discotecas se esvaindo, Cher mudou o foco da música para outra paixão: o cinema. Logo se viu em uma difícil batalha, uma vez que a mídia mais uma vez dava sua carreira por vencida e ela tentava conseguir papéis sérios para um mulher agora com seus 36 anos e com pouca experiência no cinema. Em 1982, Cher fez seu primeiro papel em uma produção da Broadway, Come Back to the Five and Dime, Jimmy Dean, Jimmy Dean. Mais tarde, ela foi escalada para atuar na versão do espetáculo para os cinemas. Seu desempenho lhe garantiu o convite para contracenar com Meryl Streep e Kurt Russel em Silkwood (O retrato de uma coragem). Na época, Cher foi alvo de preconceito por parte da imprensa, que questionava a capacidade de uma “celebridade” de atuar. Com a credibilidade afetada, o público chegou a rir durante uma coletiva de imprensa quando o seu nome foi anunciado no elenco do filme, fato que fez Cher chorar a noite inteira.
Disposta a dar uma volta por cima, Cher não poupou esforços para reconstruir sua carreira no cinema. Em 1983, recebeu uma inesperada indicação ao Golden Globe por sua atuação em James Dean: o mito sobrevive; mais tarde, em 1984, ganhou o Golden Globe de melhor atriz coadjuvante por sua excelente performance em Silkwood, na qual protagoniza um romance lésbico com a personagem de Meryl Streep. Mesmo em um papel secundário, Cher dividiu a atenção do público e crítica com os protagonistas, feito que lhe garantiu uma valiosa indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante, contrariando a expectativa da imprensa.
Em meados de 1984, Cher radicalizou ao cortar os cabelos no estilo moicano, com as laterais da cabeça raspadas e fios descoloridos no topo, gerando crítica por parte da imprensa, que punha em questão a seriedade de sua carreira no cinema por conta do seu novo look. Com um visual agressivo e masculinizado que simbolizava uma época que se abria para a emancipação feminina e a diversidade sexual, ao mesmo tempo que se retraía por conta da descoberta de uma nova doença, a Aids; Cher foi uma clara influência para o movimento “power dressing”, que também teve como ícones artistas como Grace Jones e Annie Lenox.
Com suas aventuras em Hollywood cada vez mais comentadas pela mídia, Cher recebia críticas variadas sobre o seu desempenho nas telonas, no entanto, o preconceito ainda prevalecia, e sua real capacidade de atuar era constantemente posta em dúvida por conta do seu status de “superstar”. Em 1985, porém, Cher se estalebeceu como uma das atrizes mais adoradas de Hollywood ao protagonizar Mask (Marcas do Destino). Por sua emocionante atuação como mãe de um garoto desfigurado, Cher foi premiada na categoria Prix D'interprétation Féminine pelo festival de Cannes, e recebeu comentários positivos da crítica especializada. Para fechar o ano com chave de ouro, Cher foi condecorada com o Harvard Hasty Pudding Woman of the Year Award pela Univesidade de Harvard, prêmio que elege as mulheres mais influentes do mundo em cada ano.
A partir de 1985, Cher estrelou uma série de filmes-hit com bilheterias recorde, incluíndo Suspect (Sob Suspeita), com Dennis Quaid, e The Witches Of Eastwick (As Bruxas de Eastwick), com Susan Sarandon e Michelle Pfeiffer; estes figuraram entre os filmes de maior arrecadação de 1987 e a consagraram como uma das atrizes de maior sucesso da década.
Por Moonstruck (Feitiço da Lua, 1987), no qual faz par romântico com o ator Nicolas Cage, Cher foi premiada com o Oscar de Melhor Atriz, atingindo um novo pico em sua carreira. “Se eu ganhei este prêmio, qualquer um pode fazer o mesmo”, disse Cher durante a cerimônia da entrega de prêmios. No entanto, o amor de Cher pela música não havia acabado. Cher ganhou o terceiro Golden Globe de sua carreira na categoria de Melhor Atriz e foi eleita pelo People’s Choice Award na categoria Favorite Female Star, celebrando o auge do seu prestígio no cinema com o retorno de sua carreira musical em alto estilo. O disco Cher, em 1987, foi o seu debut como cantora de heavy metal. O compacto I Found Someone, com batida agressiva, guitarras distorcidas e vocal forte e autoritário, foi um dos grandes hits do verão de 1988, fazendo de Cher, agora com 41 anos, uma febre entre a nova geração. Na sequência, os hitsWe All Sleep Alone e After All mantiveram o nome de Cher no topo dos charts americanos pela primeira vez em uma década.
Em 1989, Cher se transformou efetivamente em um ícone no mundo da música. If I Could Turn Back Time, o primeiro compacto do álbum Heart Of Stone, foi um sucesso gigantesco desde a semana de lançamento. A canção, um indefectível clássico dos anos 80, com guitarras melódicas e apelo radiofônico, figurou no top 10 de todos os países do continente europeu simultaneamente e liderou as paradas da Austrália por 17 semanas consecutivas. O sucesso monstruoso do hit foi continuado pelo videoclipe, que causou furor por parte da imprensa e do público por conta do forte apelo sexual nele contido. No clipe, Cher aparece a bordo de um navio trajando uma roupa semi-transparente e simulando movimentos sensuais com marinheiros, com duas borboletas tatuadas em suas nádegas à mostra. A controvérsia ficou por conta da MTV, que se recusou a exibir o vídeo por conta de sua nudez. Com a polêmica iniciada, o público se mostrou revoltado diante de tal atitude, até que a emissora cedeu aos protestos e concordou em veicular o videoclipe em uma versão censurada a partir das 9 horas da noite. O clipe trouxe Cher de volta as capas de tabloides do mundo inteiro, que escandalizavam a diferença de idade entre ela e seu então namorado, o padeiro Rob Camilletti, 20 anos mais novo, e o seu suposto passado como ator de filmes pornográficos.
Tendo a vida pessoal mais uma vez escandalizada pela imprensa, Cher foi o alvo preferido da perseguição por paparazzi no final dos anos 80. Certa vez, tentando se esquivar de fotógrafos que invadiam sua casa, ela acabou agredindo um – o que a levou para os tribunais e serviu de cena para o clipe de Heart of Stone, um dos mais polêmicos e discutidos de sua carreira por mostrar sua relação com a fama desde a década de 1960.
O sucesso descomunal do álbum Heart of Stone, que vendeu mais de seis milhões de cópias, e a força que a popularidade de Cher adquiriu no final dos anos 80, serviram de suporte para a Heart Of Stone Tour, a primeira turnê mundial de Cher após dez anos sem pisar nos palcos.
Depois de três anos analisando propostas para o filme que sucederia Moonstruck, Cher retornou as telonas com Mermaids (Minha Mãe é Uma Sereia), ao lado de Bob Hoskins, Winona Ryder e da estreante Christina Ricci. O filme foi um fenômeno de bilheteria, tendo bastante impacto entre o público infanto-juvenil do início da década de 90. Para a trilha sonora, Cher gravou a canção The Shoop Shoop Song (It’s In His Kiss), um hit mundial que vendeu em torno de sete milhões de singles e alcançou o top 10 em quinze países simultaneamente, em maio de 1991, sendo certificado como o single por uma artista feminina mais vendido do ano no Reino Unido.
Impulsionado pelo êxito mundial da música-tema do filme, o álbum Love Hurts, lançado em junho de 1991, vendeu mais de 10 milhões de cópias ao redor do globo, tendo estrondoso impacto especialmente na Europa. Tratava-se do fim de uma trilogia bem-sucedida de álbuns de heavy metal, com as maiores vendagens da carreira de Cher e seis anos de hits consecutivos emplacados na Billboard Hot 100 e nos charts da Europa. Love Hurts permaneceu como o álbum mais vendido no continente europeu por seis semanas consecutivas, servindo de ponte para o sucesso dos compactos Love and Understanding, que novamente conquistou o top 5 nas paradas europeias, Save Up All Your Tears e Love Hurts, este último tema principal da novela Vamp, da Rede Globo.
O incrível desempenho do álbum deu origem a Love Hurts Tour, um espetáculo que aliou a teatralidade a temas controversos, como a religião e a sexualidade. O show era repleto de simbologias e causou polêmica por associar símbolos religiosos com o sexo e as fantasias sensuais e “inapropriadas” que Cher usava para cantar as canções.
A consagração aconteceu com o lançamento do disco Greatest Hits: 1965-1992, a primeira compilação oficial da carreira de Cher. O álbum se concentrou nos hits recentes de sua carreira e foi vendido a exaustão no mundo inteiro, permanecendo na primeira posição da parada britânica por sete semanas. Na Alemanha, Cher foi premiada com o ECHO de cantora mais bem sucedida do ano.
Após uma década de trabalho incessante lançando álbuns, gravando filmes e viajando em turnês mundiais, a popularidade de Cher estava mais forte do que nunca, e sua carreira não dava sinal de que iria parar, quando, em dezembro de 1992, Cher interrompeu sua turnê pela metade e cancelou todas as datas seguintes. Mais tarde, foi noticiado que ela estava com síndrome de fadiga crônica em função do trabalho ininterrupto e exaustivo durante a última década.
Entre 1993 e 1994, Cher se reclusou totalmente da mídia, fazendo raras aparições públicas durante esse período – salvo por uma divertida colaboração para o cartoon da MTV Beavis and Butt-Head, na qual fez uma versão roqueira do seu hit I Got You Babe. No natal de 1994, lançou uma regravação do clássico Love Can Build A Bridge, em um trio com as cantoras Neneh Cherry e Chrissie Hynde, e atingiu o topo dos charts britânicos.
Em 1995, após três anos de hiato do show business, Cher reapareceu aparentemente mais madura e com um novo estilo musical; era o surgimento da Cher 90’s. O álbum It’s a Man’s World refletiu toda a bagagem de Cher como cantora em seus recém-completados 30 anos de carreira de uma forma intimista e por vezes acústica. O disco é o retrato do amadurecimento de Cher em sua temporada afastada da mídia, com letras mais densas e pessoais. Foi um trabalho experimental e sem fins comerciais, no entanto, a crítica o reconheceu como o melhor álbum de sua carreira, mostrando uma clara evolução em sua voz, que soava mais afinada e suave, e na sua capacidade de explorar as vertentes do pop.
Uma nova versão do disco foi lançada no verão de 1996, com arranjos retrabalhados e sonoridade aproximada dos guetos americanos. O álbum foi descrito pela crítica americana como um “fenômeno da R&B”, marcando mais uma reinvenção na carreira musical de Cher, onde prevalecia a batida negra, inspirada na Motown, e uma atmosfera que evocava o hip hop e o soul de artistas como o Boyz II Men. Durante essa fase, Cher desenvolveu um certo “low profile”, se mantendo pela primeira vez em sua carreira longe das polêmicas e escândalos que a caracterizaram nas décadas passadas. Mesmo sem divulgação efetiva por parte de Cher ou da gravadora, o álbum foi um sucesso de crítica e vendas, tornando-se referência na cena R&B dos anos 90 e vendendo três milhões de cópias. O disco emplacou o primeiro grande hit de Cher nas pistas de dança desde 1979: One by One, originalmente uma canção de rock, foi retrabalhada por Cher e ganhou uma nova roupagem R&B, alcançando o top 10 no Reino Unido e, em sua versão remixada, no chart dance da Billboard.
Cher comemorou os 50 anos de idade relativamente afastada do show business, enquanto se concentrava na direção do especial para a HBO If These Walls Could Talk (O Preço de Uma Escolha, 1996), seu primeiro trabalho como diretora de cinema. O drama, estrelado por ela própria ao lado de Demi Moore e Sissy Spacek, marcou o retorno de Cher as polêmicas na década de 90, uma vez que o filme discutia abertamente um tema bastante controverso, o aborto. O filme valeu a Cher uma indicação ao Golden Globe de Melhor Atriz Coadjuvante em um filme feito para a TV e o convite de honra a cerimônia de entrega de prêmios em 1997.
Em 1998, a carreira de Cher parecia chegar ao fim de um grande ciclo. Ela estava em Londres, em Janeiro, quando um telefonema da filha Chastity trouxe a notícia da morte de Sonny Bono em um acidente de esqui. Ele tinha 62 anos. Sonny e Cher haviam se divorciado há 23. O funeral foi transmitido ao vivo pela CNN, e Cher fez um discurso emocionante sobre sua vida com Sonny. “Ele é a pessoa mais inesquecível que eu já conheci”, disse, em meio a lágrimas. Em maio, Cher ganhou sua estrela na Calçada da Fama de Hollywood em conjunto com Sonny Bono pela parceria histórica que os dois formaram na TV na década de 1970.
Com a trágica notícia, Cher deu sinais claros de que sua carreira estava encerrada. Os jornalistas da época eram unânimes ao apontar a morte de Sonny como um ponto final em sua trajetória artística. Ela, no entanto, fez das lágrimas o motivo para, como uma fênix, ressurgir das cinzas e reinventar sua carreira. Então, surgia a Dance Cher.
Em outubro de 1998, Cher lançou a canção Believe. Com um letra que falava sobre superação, refrão que evocava a morte de Sonny (“Do you believe in life after love?”) e batida eletrônica, a canção começou a fazer sucesso timidamente em alguns países da Europa, mas, como uma febre, alastrou-se rapidamente pelas rádios do mundo inteiro. Cerca de três meses após o lançamento do single, um fenômeno de proporções gigantescas ocorreu: Believe ocupava a primeira posição em 23 países simultaneamente; tratava-se da canção mais tocada nas rádios da história.
O sucesso extraordinário de Believe elevou a carreira de Cher a um nível inimaginável. Em março de 1999, a canção havia conquistado a primeira posição em quase todos os países do planeta, fazendo de Cher, então com 52 anos, a mulher mais velha a alcançar o número um no Hot 100 da Billboard. Entre os inúmeros recordes que Cher conquistou no final do século estão os de maior intervalo entre o primeiro compacto a atingir o número um e o último (33 anos entre I Got You Babe eBelieve), e o de single por uma artista feminina mais vendido da história, com 12 milhões de cópias. Cher se tornou a única artista a ter uma canção número um nas décadas de 1960, 1970, 1980 e 1990. No Reino Unido, Cher reinou soberana durante sete semanas consecutivas em primeiro lugar nos charts; na Austrália foram 13.
O álbum Believe marcou o renascimento de Cher como artista. Do pedestal construído em seus trinta anos de carreira, com todas as possibibidades de se fazer música aparentemente esgotadas e uma imagem iconográfica que atravessava gerações, Cher olhou pra trás e decidiu que era tempo para a maior de todas as reinvenções em sua carreira. Com influência do techno e elementos de cada vertente da música em que já esteve, embalados por uma estética jovem e dançante, Cher voltou as paradas com força total no fim do século, com um estrondoso impacto entre o público jovem. Com Believe, o álbum, Cher vendeu mais de 20 milhões de cópias em todo o mundo, recebendo certificado de 4x Platina nos Estados Unidos e em outros 23 países e quebrando o recorde de álbum de dance music mais vendido de todos os tempos. No final de 1998, Cher se lançou como escritora assinando a autobiografia The First Time, um dos maiores best-sellers do ano.
A monstruosa volta por cima que Cher fez em 1999 trouxe a tona seu nome aos programas de TV e capas de revista, que já a apontavam como a maior entertainer do século XX. Com a popularidade transcedente, Cher cantou o The Star-Spangled Banner, o hino dos Estados Unidos, em frente a audiência do Super Bowl XXXIII, tradicionalíssimo evento de futebol americano, tendo sua imagem transmitida ao vivo em rede mundial. Em março, recebeu convite de honra do canal VH1 para dividir o palco com Elton John e Whitney Houston no especial Divas, onde fez uma performance memorável ao lado de Tina Turner; na mesma noite, Cher anunciou sua primeira turnê mundial depois de sete anos. A Do You Believe? Tour representou uma total reinvenção de Cher nos palcos, contrastando novos hits com versões repaginadas de seus clássicos e apresentando a uma nova geração de fãs sua contribuição para a cultura pop durante 35 anos. As cantoras Cyndi Lauper e Fergie, na época com o grupo Wild Orchid, abriram a maioria dos shows. A turnê atravessou a virada do século e terminou como a mais lucrativa de 1999, contabilizando 122 shows e 160 milhões de dólares em faturamento e garantindo a sexta nomeação da carreira de Cher ao Emmy.
Em 1999, Cher conquistou quatro lideranças consecutivas na parada dance da Billboard, com Believe seguido de Strong Enough, All or Nothing e Dov’è L’amore – esta última, uma homenagem as culturas espanhola e italiana, figurou entre as mais tocadas do ano nas rádios da Espanha, Argentina, Itália, Grécia, Romênia e Israel. Mais tarde, Cher estrelou o drama de época Tea With Mussolini (Chá com Mussolini), mostrando uma atuação polida e suave que foi considerada pela crítica como uma de suas melhores performances no cinema.
Cher fechou o século XX no auge do sucesso e reconhecimento, com uma nova geração de hits, uma imagem iconográfica calcada em elementos como a androginia e o questionamento do belo e inigualável influência entre as estrelas da nova geração como Christina Aguilera e Britney Spears. Sua entrada no novo milênio se deu em grande estilo, tendo sido indicada em todas as grandes premiações da música; em 2000, Cher ganhou o segundo prêmio ECHO de sua carreira – ela e Madonna são as únicas cantoras a conseguirem tal feito – e foi agraciada com o título de Artista Lendário pelo World Music Awards, ao lado de Michael Jackson. Cher foi nomeada a três categorias no 42nd Grammy Awards: “Melhor Álbum Pop” pelo disco Believe, “Gravação do Ano” e “Melhor Gravação Dance” pela canção homônima, vencendo a última. Este seria seu primeiro Grammy em quatro décadas de carreira; mais tarde, o Bambi Awards a agraciaria com o título de “Maior Cantora da História da Música”, coroando sua carreira musical e eternizando seu nome entre os maiores artistas do milênio. Cher dedicou o prêmio “em memória a Son[ny Bono]”.
Sob pressão descomunal em relação ao trabalho que sucederia o fenômeno Believe, Cher tomou uma decisão ousada que transgrediu qualquer previsão feita pela crítica até então; not.com.mercial, lançado em novembro de 2000, contradizia a estética jovem e dançante de seu último trabalho, revelando uma faceta desconhecida de Cher, que mostrava um caráter assustadoramente pessoal através de letras que narravam sua vida, desde a infância pobre até a cruel relação com a fama. Tratava-se de uma coleção de canções compostas e gravadas em 1994 durante um período obscuro de sua carreira, quando o sucesso a consumiu de tal forma que fez a cantora entrar em princípio de depressão. Ela assinou todo o trabalho de composição e produção do disco, o primeiro álbum dito “conceitual” de sua carreira. Com o potencial de vendas desacreditado pela gravadora, o lançamento se deu de forma independente através do seu site oficial. Em 2001, as vendagens do álbum superaram até a mais otimista das previsões, com cerca de três milhões de cópias vendidas e o recorde de álbum físico mais vendido da história da internet.
Um dueto com o cantor Eros Ramazzotti na canção Più Che Puoi fez explodir a popularidade de Cher na Itália, e marcou o surgimento do primeiro factóide por ela protagonizado na nova década: aos 55 anos de idade, o breve namoro com Ramazzotti, 19 anos mais novo, rendeu inúmeras manchetes durante o ano de 2001.
No final de 2001, enquanto o planeta parava para assistir de camarote a degradação física e moral de um dos maiores patrimônios dos Estados Unidos, as Torres Gêmeas, Cher gravou uma das canções mais emblemáticas da sua vida. O videoclipe, lançado em fevereiro de 2002, marcou uma imagem histórica: em Song For The Lonely, Cher caminha pelas ruas de Nova Iorque desde o século XIX até a atualidade, enquanto prédios são construídos a medida que ela cruza as ruas da cidade com uma multidão de pessoas de diferentes tribos e épocas a acompanhando. Intercalada com as cenas externas, surge uma Cher de cabelo loiro platinado na figura de Deus – era a Cher 2000’s. O vídeo, repleto de críticas políticas nas entrelinhas, virou símbolo da perseverança americana diante dos atentados do 11 de setembro e transformou a canção em um enorme clássico nos EUA – foram 21 semanas no topo da parada de maxi-singles da Billboard, um recorde absoluto.
O álbum Living Proof foi lançado sob imensa expectativa, vendendo 100 mil cópias na semana de estréia e estreando entre os dez mais vendidos no Top 200 da Billboard, expandindo sua longevidade no chart para 36 anos (contados desde All I Really Want To Do, de 1965). O disco, o primeiro a ser promovido desde Believe, de 1999, foi o debut oficial de Cher na cena pop do século XXI, revolucionando a forma de se fazer dance music na nova década e inserindo experimentalismos como o “Cher Effect”, que viraria febre nas gravações de dance e hip hop do início do século, e samples eletrônicos em um contexto essencialmente pop. Os compactos A Different Kind Of Love Song, When The Money’s Gone e The Music’s No Good Without You – este último, uma batida eletrônica de vanguarda que definiria o gênero electropop na década e e seria o primeiro single por um artista não-russo a chegar à primeira posição no Russian Airplay Chart – foram os grandes hits de 2002 nas boates dos Estados Unidos, Europa e Austrália, dando à Cher o recorde de cinco faixas de um único álbum na primeira posição do Hot Dance Club Songs. O visual adotado por Cher na época, um look jovem no melhor estilo Dominatrix com madeixas longas e escorridas em um tom de loiro platinado, virou hit nos salões americanos e a consagrou novamente como ícone fashion, sendo agraciada pelo American Fashion Awards com um prêmio por sua “Influência na Moda”.
Em maio de 2002, Cher foi premiada pelo Billboard Music Awards na categoria de “Melhor Artista Dance” por sua performance surpreendente nos charts anuais da revista, e recebeu um prêmio idealizado para ser entregue especialmente a ela por seu legado de quatro décadas na história da música.
Para coroar os 37 anos de carreira, Cher deu início a grandiosa Living Proof: The Farewell Tour, uma digressão mundial onde ela encarnou todos os personagens que construiu em sua carreira, desde a garota hippie dos anos 60 até a rockstar dos anos 80, para fazer uma retrospectiva de hits a partir do clássico sessentista I Got You Babe até a sua redenção artística com os megahits Believe e Song For The Lonely em duas horas de espetáculo, com doze trocas de figurino que deixaram em evidência sua forma física e energia inesgotável aos 56 anos de idade. Os shows foram abertos pelas cantoras Carrie Underwood e Cyndi Lauper e contaram com a participação dos acrobatas do Cirque de Soleil. A turnê ganhou um especial exibido pela NBC que atraiu um público recorde de 17 milhões de telespectadores, a maior audiência de um concerto por um artista solo de todos os tempos. O especial gerou o DVD The Farewell Tour, um sucesso de crítica vencedor do primeiro Emmy da carreira de Cher após aproximadamente uma dezena de indicações. Em 2003, ela foi convidada para atuar na comédia Stuck On You (Ligado em Você) ao lado de Matt Damon e Meryl Streep, em uma participação especial tida pela crítica como o ápice do filme.
Entre 2003 e 2004, Cher invadiu as prateleiras do mundo inteiro com três lançamentos simultâneos: a coletânea dupla The Very Best Of Cher, que recebeu certificado de 2x platina nos Estados Unidos e conquistou a quarta posição no Top 200 da Billboard (a posição mais alta alcançada por uma compilação em 2003), permanecendo 51 semanas consecutivas no chart e dando a Cher a terceira posição no ranking de artistas femininas que mais venderam na história, com 180 milhões de álbuns e 70 milhões de singles; o DVD The Very Best Of Cher: The Video Hits Collection e o registro da Farewell Tour em CD. A aposta foi bem sucedida e todos os lançamentos figuraram entre os mais vendidos do ano, impulsionados pela oitava indicação da carreira de Cher ao Grammy, na categoria de “Melhor Gravação Dance” pelo hit de 2004 Love One Another, seu último single na década de 2000.
Cher encerrou a The Farewell Tour em abril de 2005 após três anos de apresentações em países de todos os continentes do globo, como os Estanos Unidos, Canadá, México, Inglaterra, Alemanha, Austrália e Nova Zelândia. A turnê foi responsável por um novo e enorme pico na carreira de Cher, registrando 325 shows, quatro milhões de espectadores e 290 milhões de reais em faturamento (descontados os shows cuja a arrecadação foi doada às vítimas do tsunami de 2004 na Ásia), fazendo de Cher a detentora da turnê mais lucrativa por uma artista feminina de todos os tempos até então, recorde registrado no Guiness Book of Records de 2007 na página 187. Seria este o fim da carreira de Cher?
Em 2008, após três anos longe dos holofotes, Cher voltou com cabelos ruivos e vestido assinado por Bob Mackie, seu fiel personal stylist ao longo de quatro décadas. Sua grandiosa presença no 50th Grammy Awards foi suficiente para anunciar o aguardado comeback da “Goddess of Pop” - Deusa do Pop, segundo a imprensa britânica. O megainvestimento do Caesar’s Palace, um cassino de luxo localizado em Las Vegas, se deu em forma de um contrato de 60 milhões de dólares; a resposta veio em menos de um mês, com um pré-faturamento de 480 milhões de reais em apenas duas semanas de vendas de ingressos, 40 milhões a mais que o arrecadado pela cantora Celine Dion em um ano de apresentações no local, dando a Cher os recordes de artista feminina solo que mais arrecadou em turnês, com faturamento total de 900 milhões de dólares, e cantora mais rica do planeta, com uma fortuna pessoal avaliada em 1 bilhão de dólares. Cher deu início a maratona de shows em 6 de maio de 2008, aos 61 anos de idade, apresentando a fãs de todas as idades um espetáculo que insere 45 anos de música em uma representação teatral, circense e de vanguarda, celebrando o meio século de sua carreira do mesmo modo que começou: em um cassino de Las Vegas.
Para 2010, há um leque de rumores e projetos confirmados. Uma comédia com o ator Johnny Knoxville, um musical ao lado de Christina Aguilera e um novo álbum de rock, country ou até mesmo hip-hop em parceria com Pharrell Williams e Timbaland são cotados como as apostas de Cher para a nova década. No entanto, nenhuma previsão pode descrever com precisão o próximo passo de Cher. Como força da natureza que é, Cher é imprevisível. E como a espécie humana, ela sempre entra em mutação para sobreviver ao ambiente. Para nós, a plateia, resta esperar para assistir a próxima reinvenção da “Deusa do Pop” e aplaudi-la, mais uma vez, de pé.
FONTE DO SITE : Cher Fanatics Brasil
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